domingo, 31 de outubro de 2010

VALEU

                                                 Remaldo Cassol
                                                           Setembro de 2010
                                                                                                             
As estrelas pareciam mais um punhado de brilhantes, não permitindo um olhar fixo.
Ofuscavam meus olhos. Nada melhor para passear a noite, ouvir os grilos que com suas chamadas desviavam o pensamento.
Rumo a ser tomado não estava em meu horizonte. Bastava um só motivo e a direção seria repentinamente alterada.
Caminhava, caminhava....
Caminhava ouvindo somente o encontro de meus pés no solo batendo ritmado.
Agora quem estava “grilando” era eu. Embora sem razão começasse a preocupar-me de meu devaneio. Se nada tenho a fazer, por que andar?
Apenas um motivo veio a mente, fugir de mim mesmo. Transportar no mundo meu coração vazio e minha carcaça sem valor, a procura de ser útil.
Longo percorrer de tempo, longos pensamentos.
Aos poucos começa o encontro de pessoas que iam e vinham pelo cais do porto.
Navios balanceavam como se fosse um ninar de criança, mas tão seguros sem chance de voltar às águas.
Serei eu navio também preso com vontade de voltar à vida ou serei um simples barco à deriva?
Meu destino flutuava e minha mente perturbada voltava a refletir com o longo apito dos navios.
Que vejo? Uma linda mulher sentada estendendo os braços. Vou ao seu encontro. No punho um relógio segurando uma mensagem. Sem escrúpulos li: quero morrer, procurem por este telefone.
Rapidamente socorri a moça, arrancando seu cinto apertado. Rasguei o sutiã, a respiração começou a ficar normal. Em poucos minutos chegou a ambulância.
No dia seguinte sentindo-me mais forte e com rumo traçado, telefonei à moça para saber como estava. Sua meiga resposta aliviou-me mais ainda do pesadelo. Afinal meu dia não tinha sido tão inútil. Valeu.


Nenhum comentário: